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21.05.19

 

Ainda não tinha acordado direito quando recebi uma ligação. Era tia Elizama (uma das pessoas mais engraçadas que conheço), conversamos por poucos minutos, pois ela pediu para falar com a minha mãe. Fui banhar e após isso preparei o café enquanto elas conversavam.

        Minutos após, mamãe assustada saiu do quarto em direção à mesa, puxou uma cadeira e assentou-se, colocou as mãos sobre a testa e disse : 

 

-Parece que uma embarcação naufragou no oeste do Pará, e isso ocorreu nessa madrugada! 

 

          Foi inevitável não ficar angustiada, pois 60% da minha família mora no estado do Pará. 

          Abrimos alguns sites de notícia para checar se a informação era verídica, mas não encontramos nada. Pensei:

- Deve ser mais um daqueles boatos!

          E, seria mesmo! Se com o passar das horas não chegassem tantas mensagens de desespero no grupo da família, e se não fossem vinculadas fotos e vídeos do fato na imprensa.

          O acidente ocorreu na noite de uma terça-feira, estava chovendo muito e até o momento não se sabia quantas pessoas estavam na embarcação. Por volta das 11:00 horas chegou ao nosso entendimento que duas primas estavam desaparecidas, elas tinha viajado na tarde daquele mesmo dia.

: - "Já ligamos várias vezes e não conseguimos falar com a Loura. Não sabemos o nome do barco que elas pegaram, mas já era para estarem em Altamira",  disse uma prima em uma das mensagens enviada  pelo messenger.

: - Às vezes o sinal é ruim, ou quem sabe o celular descarregou, falei como forma de acalmá-la.

        Conforme os minutos passavam, uma bomba de sentimentos explodia dentro de mim, e a incerteza foi a faísca para isso.

"Eliete, no naufrágio que ocorreu aqui próximo a Porto de Moz, morreu muita gente e entre essas pessoas está duas sobrinhas nossas. A Loura e a filhinha dela, a menina que estava fazendo consultas." - disse uma tia em um áudio que enviou para o whatsapp da minha mãe.

          Nesse momento, um "filme" passa na minha cabeça. A comida já não tem mais gosto, e como uma criança que caiu e ralou o joelho, choro. No final do dia eu e minha irmã decidimos  ir à Porto de Moz. Foi uma maratona, pois era final do mês e tínhamos poucos recursos para chegar até lá. Fomos pelo trajeto onde aparentemente era mais rápido - ônibus e lanchas foram os transportes que nos levaram à uma cidade onde os gritos e lamentações reinavam-.

           A viagem atrasou um pouco e por conta disso não chegamos à tempo de vê-las. Guardo os bons momentos, a imagem de cada uma viva e que vivem dentro de mim. O sorriso, a voz e o jeito da Loura fazendo suas costuras, o olhar sincero, o andar jeitosinho e o cabelo preto com uma tiara enfeitando a cabeça da pequena Maria Eduarda. 

Duda, nossa Dudinha foi de forma tão brusca e precoce, mas, aprouve à Deus desta forma.

           Loura deixou um legado de mulher forte, responsável, amável e muito amiga.

Em memória de  Maria Eduarda Sampaio Miranda e Aurilene Sampaio Miranda.

 

 

 

Ao todo vinte e três pessoas morreram no naufrágio e trinta sobreviveram. 

Vítimas: 

•Luciana Pires, 28 anos

•Neiva Nonato Romano, 18 anos

•Maria Edna Duarte, 57 anos

•Aurilene Sampaio Miranda, 35 anos

•Lucivalda Marques Oliveira, 42 anos

•Rosiene dos Santos Leite, 35 anos

•Weivon Leite de Oliveira, 5 anos

•Orismar Ribeiro Miranda, 61anos

•Sebastião Soares Batista, sem idade confirmada

•Sergio Henrique Sousa, 1 ano

•Leomi Almeida Pereira, 28 anos

•Leticia Pires Pereira, 4 anos

•Maria Eduarda Sampaio Miranda, 5 anos

•Paulo Roberto Viana Mendes, 25 anos

•Auzilene Andrade Sousa, 17 anos

•Salete Machado, adulto sem idade confirmada

•Nicole Oliveira dos Passos, 2 anos

•Alexandre Sampaio Sales, 22 anos

•Maiara Santos da Silva, 19 anos

•Graziela Duarte, 10 anos

•Weligton Mendonça, idoso sem confirmação de idade

•Nicolas Oliveira dos Passos, 2 anos

•Tais Oliveira dos Passos, 5 anos

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Arquivo Pessoal da Família

Dados:EBC

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